Por Trás dos Pixels: God of War - A vingança e a culpa de Kratos



A versão remasterizada de God of War 3 trouxe uma enxurrada de links antigos e textos novos a respeito de violência em games, ensaios sobre a índole do protagonista e discussões sobre temática da vingança. Afinal, além de "Atheeenaaaa", muito provavelmente você escutou a frase "I will have my revenge" pular rasgada da boca de Kratos centenas de vezes durante a saga.

Assim, acho justo (e o uso dessa palavra é bem condizente com assunto, como você verá a seguir) discorrer sobre a desforra de Kratos. Primeiramente, permita­-me colocar que é exatamente isso que devemos fazer com as obras de cultura: ­­ abrir espaço para discutir o impacto que elas causam em nós. E acredito que Kratos é alvo de polêmica por conta do uso da violência que, em muitos momentos (especialmente no terceiro jogo), pode ser considerada brutal.

Contudo, não quero me ater a responder se a bárbarie representada no game é certa ou errada. Com relação a isso, só posso dizer que não acredito que nenhuma dessas alternativas é correta. Um jogo só poder ser analisado em um viés complexo: ou seja, colocado dentro de um sistema em que o tipo do jogador, o momento em que o game foi lançado, e tantas outras variáveis devem ser levadas em conta.

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A vingança na Grécia Antiga

O que acho mais interessante é pensar que God of War 3 participa de discussões acaloradas pois traz à tona questões morais e éticas. Talvez a principal delas seja o tema da vingança. E, nesse ponto, há uma enorme discussão histórica que contextualiza a vingança, ora como justiça, ora como selvageria. Não tenho certeza se os diretores desses games têm consciência, mas na Grécia antiga, a vingança era vista como um método válido para que a justiça prevalecesse. Na verdade, essa tentativa de equiparação aparece em uma lei antiga escrita na antiga Mesopotâmia, que você conhece pela expressão "olho por olho, dente por dente". Ou seja, deve existir uma correspondência entre o mal causado e o castigo.
Até mesmo Aristóteles discursou sobre a vingança. Para o filósofo grego a retaliação é válida, já que o homem justo e virtuoso nunca deve aceitar a injustiça, mas aquele que passa para a represália não deve infringir as leis de seu povo. Ná ética aristotélica, quando o homem age por retaliação em um momento de raiva, ele não necessariamente tem intenção criminosa, pois a culpa é de quem encolariza o tal homem. A mitologia grega tinha sua própria deusa da vingança, Nemesis, que castigava o mau comportamento dos humanos e defendia o equilíbrio e a justiça dos deuses. Mas Nemesis também defendia aqueles que tinham sido erroneamente acusados.

Foi somente durante o Renascimento que pensamento estoico surgiu e contestou essas ideais. O filósofo Lúcio Aneu Sêneca ficou conhecido por afirmar que todo tipo de vingança é condenável por conta de sua natureza destrutiva. Quem se vinga percebe que o ato não é eficaz, e apesar do prazer imediato, não soluciona nem minimiza o problema inicial.

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