A E3 2016 começou. Sony e Microsoft, as duas gigantes mais participativas do evento em termos de conferência e substancialidade de conteúdo, mostraram garras e dentes para se destacar num mercado que, apesar de acirrado, se mostra bastante dividido – algo que ficou exposto na diferença de filosofia entre as duas empresas.
É até possível comparar as concorrentes no pensamento apolíneo-dionisíaco da mitologia grega, isto é, “razão e emoção”. De um lado, temos Apolo: a razão, o “pé no chão”, o protocolo seguido à risca de forma competente, com ritmo bom e agradável, correto. Essa é a Microsoft. Do outro lado, temos a emoção, vista também como “loucura” (no bom sentido), a ousadia de mostrar coisas fantásticas com orquestra ao vivo, a capacidade de envolver o espectador e tocá-lo no coração, mexendo, assim, com o emocional. Esse é o mérito da Sony.
Cada uma tem seus prós e contras. O mérito está igual para cada lado com essa reflexão. De um lado, temos Microsoft, que soube se modernizar e apresentou produtos promissores, a maioria com data de lançamento, pé no chão, firme, console novo, Slim, logo de cara, uma consistente linha de jogos, melhorias em serviços da Xbox Live, como a adição de clubes e a busca otimizada por jogadores, os controles personalizados, enfim, prato cheio para os fãs.
De outro lado, temos a Sony, que tratou de não gastar mais que 5 minutos somando a fala de TODOS os executivos. Quase ninguém apareceu no palco para falar e, quando isso aconteceu, não durou mais que dois minutos. Foi um Andrew House aqui, umas palavrinhas de Kojima ali e pronto. Mas o fator tocante marcou a conferência: jogos, jogos, jogos e mais jogos. Um atrás do outro, só teaser na cara, promessas mirabolantes, ousadas, a maioria sem datas. Já notaram a diferença? Vamos refletir um pouco mais.
Competição sadia: cada empresa segue o próprio caminho
Quando dizemos que a competição é “sadia”, é claro que nos referimos ao fato de que, bem, óbvio que uma empresa observa a outra com papel e lápis na mão para desviar trajetórias, adotar estratégias e analisar táticas para avançar no mercado. Quem ganha com isso somos nós, consumidores, pois a tendência é que cada empresa se esforce muito para entregar produtos e serviços melhores.
No caso de Sony e Microsoft – e, na verdade, na história dos games em geral –, isso fica evidente de um jeito, digamos, “peculiar”. Diferentemente dos anos anteriores, quando muitos dizem que “os executivos mudaram os slides de última hora” por causa de um anúncio inesperado da concorrente, nesta edição o ar está diferente. Phil Spencer, por exemplo, sempre disse que é sadio, sim, competir no mercado, mas também sempre ressaltou que deseja oferecer a melhor experiência num console à sua maneira, buscando entregar recursos únicos para quem tem um Xbox One, independentemente do número de vendas do aparelho ou da integração absoluta com o PC.
A Sony, por sua vez, também está despreocupada com isso. Naturalmente, ela está numa posição confortável porque o seu video game nada em rios de dinheiro. E isso incomoda a Microsoft? Não. O Xbox One está aí, firme e forte, com mais de 20 milhões de unidades vendidas – caramba, isso é muita coisa para sustentar uma plataforma –, com serviços e funções que não param de nascer no console. Ela também nada em rios de dinheiro com a marca Xbox. Quer agradar os donos do aparelho e pronto, sem se preocupar se está em segundo lugar, em terceiro, em quarto. Ela está no mercado e ponto final.
E isso, sim, ficou ainda mais evidente nas conferências. A Microsoft preferiu apostar em algo mais concreto do que ousar no abstrato, que foi a abordagem da Sony. Logo de cara, Phil Spencer mostra o Xbox S, uma versão Slim 40% menor que o One convencional, com suporte a vídeos em 4K e preço de US$ 299, lançamento agendado para agosto.
Depois vieram os jogos, uma sequência eletrizante embalada por Gears of War 4, Forza Horizon 3, Inside, que vem das mãos dos criadores de Limbo e já chegará no dia 29 deste mês, ReCore, o “mindblowing” We Happy Few, mistura de BioShock com um que de Fallout, o frenético Scalebound, que só melhora a cada apresentação e está previsto para o ano que vem (videozinho abaixo que filmamos no local), Sea of Thieves, a nova proposta da Rare, Project Scorpio, o console-foguete também previsto para o final do ano que vem... E mais.
Enfim, coisas boas não faltaram. Um ou outro sem data, mas a maioria seguindo uma agenda de divulgação. O planejamento da Microsoft foi mais consistente, racional, firme. Foi “protocolar”, no melhor de todos os sentidos.
Já a Sony, como mencionamos, apostou na emoção. Teaser na cara, teaser na cara, teaser na cara. Poucas datas: The Last Guardian, finalmente (25 de outubro deste ano), a surpresa-bomba Resident Evil 7, e bomba no sentido de apresentar um gameplay absolutamente diferente do de todos os jogos anteriores da série e do que se esperava (no bom sentido, porque tá assustador mesmo), marcado para 24 de janeiro de 2017 e com demo na PSN a assinantes da Plus... E basicamente só, salvo um ou outro vago “em breve” ou “2017”. God of War nem subtítulo tem ainda - é o que se espera, pois ainda seria cedo para um eventual reboot da série. O gameplay está brutal, maduro e com mais cérebro,
Quanto ao resto que tem alguma previsão no calendário, ou eram jogos já anunciados ou experiências em realidade virtual para o PlayStation VR. Detroit é a nova proposta da Quantic Dream, que assina os exclusivos Heavy Rain e Beyond: Two Souls. Até mesmo Crash, quando deu as caras, não foi exaaaatamente do jeito que a gente esperava – ainda assim, serviu ao propósito de mexer com a emoção. E isso ditou o ritmo da conferência da Sony: envolvimento com os jogadores, uma baita orquestra tocando ao vivo, uma experiência audiovisual que poucos espetáculos oferecem. No entanto... poucas datas, muitas promessas.
Tem coisa ali que só sai em 2018, 2019, isso se não virar projeto para o PS5. Vamos torcer para que não. Death Stranding, sem pé nem cabeça, o novo projeto do Kojima, está embrionário do mesmo jeito que o P.T. era – só que agora, naturalmente, está nas mãos de um Kojima independente. Vamos aguardar todo esse show de emoções da Sony (e botem anos aí). Days Gone, mundo aberto pós-apocalíptico à la The Last of Us, impressionou também. Mas está longe de acontecer...
Enfim, há prós e contras para cada lado. Microsoft, o Apolo, preferiu seguir o protocolo e entregar coisas mais concretas, enquanto a Sony, o Dionísio, apostou na emoção, no mais abstrato, com produtos que vão demorar muito tempo para chegar às nossas mãos, mas que causaram forte impacto sentimental nos jogadores. E olha só: ela realmente não falou nada sobre o novo PS4, mesmo depois da concorrente ter apresentado dois consoles novos. Estão vendo como ninguém quis mudar slides?
Cada empresa percorre seu próprio caminho. Números são importantes, sim, concorrência é importante, sim, mas a filosofia das duas é bem diferente. A Microsoft deve continuar oferecendo mais recursos multimídia para uma experiência em tamanho família – sem deixar de ser hardcore –, enquanto a Sony abre mão disso para mostrar jogos, jogos e jogos.
Há um certo ou errado nisso? Elas sabem dizer melhor do que a gente. Afinal de contas, ambas coexistem do jeito que são e só se aprofundam no que fazem – sinal de que, bem, as coisas vão bem pros dois lados, sem que precise existir uma preocupação de quem está em primeiro, segundo, terceiro lugar. O importante é existir e trazer coisas legais para a gente. O que vocês acham disso? Reflitam conosco na seção destinada aos comentários logo abaixo.
O TecMundo Games está na E3 2016, em Los Angeles, e também tem uma força-tarefa no Brasil para a cobertura completa do maior evento de games do mundo. Continuem ligados porque traremos gameplays quentinhos de muitas coisas apresentadas.
0 comentários: